Acordou mais cedo ainda- mais do
que o habitual já que o mais novo integrante da casa estava, como sempre,
chorando. Pois é, quando tinha se desacostumado com barulhos infames,
reaprendido a dormir, notou que algo tinha atrasado e não era a conta de
telefone, nem a da água.
Pois então, ela casou e seguiu a
linha evolutiva que toda uma geração de mulheres seguiu, inclusive as que
queimaram o sutiã ouvindo Janis Joplin. Acontece que, ironicamente, ela desde
que seguiu a tal da linha evolutiva, todo dia era dia de rock and roll, baby,
mas sem goró, óbvio (“you can´t always get what you want”).
Enfim, ela, mais uma vez, como
tantas outras responsáveis pela casa, pelo trabalho, jornada dupla, por estar em
dia com a pedicure, manicure, Papanicolau, o cuidado com o sódio, não aprendeu a
lição básica e danou-se. “Tô grávida, grávida de...” . Não, não era de um
beija-flor, mas do cara que ela jurou amor eterno, mas na hora esqueceu-se de um
contrato de divisão de tarefas o que, ultimamente, achava que todo casamento
deveria ter. Tipo assim: “prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. E
lavar a louça que usei, não deixar as roupas largadas no chão, cuidar das
crianças para você poder sair com suas amigas, abaixar a tampa da privada e
também me responsabilizar pelo controle de natalidade...”
E as provas estavam todas lá. Um
legista forense teria muito trabalho: a prova do crime gritava e o choro era tão
doído que dava a impressão que só com 3 meses de idade, ele tinha perdido o
grande amor da vida. Nessas horas (quase sempre), ela, tentando manter a pose e
o orgulho, dizia:
Pois é : já tinha perdido a
noção, perceberam?! Justo ela que era tão cuidadosa com as palavras, tinha tanto
nojinho e agora estava na onda do papo de mãe. Sim, você já deve ter ouvido que
mãe perde todo e qualquer tipo de noção que se possa ter. Pode debater horas
sobre a textura do cocô enquanto degusta uma taça de creme de abacate e não
sente nojo! Ou sair toda “golfada” do fraldário de um Shopping Center porque mãe
perde a capacidade de pensar e sempre se esquece de colocar uma camiseta limpa
para ela na bolsa do bebê.
Uma vez, quando ainda não era
mãe, viu uma conhecida saindo da praia. Riu ao lembrar-se que procurou o
caminhão da Graneiro por lá. Caixa de isopor (tamanho geladeira), umas quatro
bolsas, sombrinha, cadeiras, baldes, piscininha (maldita a pessoa que inventou
aquilo), isso, mais um pouco e ainda faltava o filho! E a história se repetia
com ela: a vida como ela é.
Levantou da cama quentinha, pegou
o filho. Enfim, era só fome. Padecer no paraíso...praticamente. Não era febre,
nem cólica. Obrigada, Deus! E deu aquela piscadela para cima.