Ele me olhou, olhou, olhou e eu pensei, pensei, pensei e eu queria que ele dissesse em voz alta já que falou usando algum código ou telepatia que eu desconhecia, mas eu entendi. Sim, eu entendi.
Sim, ele me disse com olhares lânguidos, como se os olhos fossem feito de mar e os pés de se movessem em areia movediça. Ele soava surdo e evocava mudo. E não havia uma muda de flor, nem de roupa, nem de mim miúda olhando para algo que eu realmente desconhecia, assim como se desconhece o poder de um amor louco, que se perde, me perde, me rompe, me rompe, me tranca, me abre e eu, impávida, indecisa, clara como a luz da lua, sereia luminosa, os seios fartos, os olhos enormes que se acendem, acendem o meu escuro e o seu também...
Você parecia um daqueles enormes homens de gesso do Louvre que eu fico parada, quieta, devorada, devorando, um bicho querendo pular e me agarrar, sentir o que Camille Claudel sentia por ela e por Rodan.
Ah, repita, repita o que faz com que você me ame, me envergonhe com tanto amor, beirando a copo transbordando, mão que queima boca do céu da boa e nunca o céu da boca.
Seu amor me embaraça, seu amor que diz dos meus ombros, que repara nas saboneteiras, nas curvas que antecedem os desastres da minha highway. Seu amor me aniquila, me despovoa, me abaixa a voz, a guarda. Seu amor é mais louco do que eu, pior do que todas as guerras e reconstruções. Seu amor me provoca com vara curta.
Invencível, super homem, homem de aço, precavido, nem um pouco fingido.
Amor que late, urra em meus ouvidos.
E me lambe inteira pedindo desculpa,mas a cachorra sou eu. Você é o lobo.
Nem bom, nem mau.
Um lobo albino.
Um lobo que se faz de cordeiro para os outros.
Você disse, você gritou, você quase disse porra... mas você disse em atos, sempre em atos.
-Se eu fosse você ia olhar lá as coisas que eu vejo quando eu olho para o céu, o teu céu....