Você abre seu celular. Ali
está, no Facebook. Aquela sua ex-colega de escola que tem três filhos
acaba de postar um texto falando o quanto a maternidade é uma coisa
maravilhosa. Com direito a uma foto com os filhos, bem penteados, na
escola “cabeça” onde estudam. Na “bio”, o golpe final: ela é CEO de uma
empresa.
Todos os dias comparamos nossas
vidas às dos outros. Seja no Facebook, no Twitter, no Instagram ou
quando lemos notícias de celebridades. Sensação: todo mundo é feliz e dá
conta de tudo. “Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”,
berrava Fernando Pessoa bem antes de o computador pensar em existir.
Sábado à noite, você não tem
programa. E nem está a fim de sair. Está cansada e de saco cheio. Aí
você dá uma olhadinha no Instagram. Todos estão em festas incríveis, ou
dando jantares em casa ou passando uma “noite gostosa com as crianças”,
bem-vestidas e maquiadas. Ninguém está solitário ou cansado.
Tudo piora se você resolve dar
uma olhada em uma revista de celebridades. Título lido essa semana,
sobre uma atriz que protagoniza uma novela: “Fulana tem perfeita
simetria entre vida familiar e pessoal”. E continua. “Mãe de Pedro (1
ano e 6 meses), da união de três anos e meio com um empresário, a
estrela está no auge da boa forma, com 58 quilos em 1,70 metro e
invejável cintura de 68 centímetros.”
A moça consegue estrelar uma
novela, ser uma mãe maravilhosa e ter uma forma invejável. Sei. Virando a
página da revista, mais depressão. Uma apresentadora de TV diz que tem
viajado para gravar um novo quadro de um programa. Mas que é “mãe 24
horas”. Espera. Há algo de errado nessa conta. Se ela viaja, ela não
está com o filho o dia inteiro, certo? E todo mundo que é normal (e não
fica com o filho o dia inteiro) se sente um pouco pior ao ler uma coisa
dessas.
Estamos todos cercados de gente
perfeita, feliz, bonita, bem informada, fazendo um milhão de coisas ao
mesmo tempo. E ainda tendo tempo de tirar fotos para esfregar isso na
nossa cara. Um palpite: a vida dessas pessoas não deve ser tão boa
assim, senão elas não precisariam ficar aí tirando fotos e publicando na
internet ou em revistas para provar. Fica a dica.
*** Nina Lemos, 40 anos, é repórter especial da Tpm.
Carioca exilada em São Paulo, é autora de cinco livros, amiga fiel e
mãe exemplar de dois gatos. Mesmo assim, custa a dormir à noite achando
que não fez o suficiente