segunda-feira, 30 de julho de 2012

Nunca se ma chuque: deixe que os outros vão fazer isso por você...

“ – Não faça isso. Nunca se machuque. Nunca mais faça isso. Deixe que os outros vão fazer isso por você”.
 

“Quando era pequena, achava que nada era o que parecia ser. Que, na verdade, ela era parte do sonho de alguém. De um gigante. Às vezes, ela acreditava que não era um sonho do gigante, mas morava numa parte do corpo dele como um parasita. E que na pele dela também existiriam essas populações, fazendo cantinhos seus de cidades. É,todo mundo já ficou imaginando besteiras assim. Todo mundo já ficou batendo em coisas para ouvir os diferentes ruídos que as coisas fazem. Todo mundo já pensou em ser famoso. E, lá no fundo, todo mundo já desejou passar por uma grande tragédia. Para ser grandioso. Possuir o status do sofrido-mor. Ariana sente vergonha da possibilidade de estar representando um papel – um papel de coitada – que todo mundo espera um dia poder representar. Uns imaginam-se fortes e sensatos; outros, histéricos e inconsoláveis. Como ela está? Em qual personagem ela se enquadra? É vergonhoso tudo isso. Levanta da cama. Não será forte nem inconsolável. Ela será Ariana. Tentará se comportar da maneira que Ariana faria. Aquela outra Ariana. Pois não deixará de sentir-se outra. Outra pessoa no corpo daquela uma. Só que ninguém deve perceber essa confusão. Não quer que ninguém saiba que ela é uma imitação do que já foi e jamais voltará a ser. Vai tomar banho.”

“Como se pode avisar a um coração que seu amor partiu do mundo? O coração não entende. Não deixa assim, pimba, de amar, porque houve uma fatalidade, e o objeto do sentimento morreu.”

 "Por que eu não sou uma burra? Por que eu não sou uma mesa? Simples como uma mesa. Óbvia como uma mesa. Prática. Aceitável. Necessária".


“Decidiu que nunca mais vai chorar. Tem passado a maior parte do tempo chorando, e agora sua dor é tanta que não cabe representá-la por lágrimas. Lágrimas não chegam a dizer mais nada”.


“As mudanças, quando acontecem, são mudanças já acontecidas, e que apenas aguardavam o soar do alarme para serem acionadas. Do alarme chamado sobrevivência. Que manda endurecer um coração. Ou quedar-se mais sensível às borboletas, quando se sabe que não passam de bichos feios fantasiados com asas coloridas”.


“Ninguém sabe até onde vai sua resistência. Dizem que Deus dá o cobertor conforme o frio, mas ninguém sabe o quanto pode agüentar desse frio. Se morrer de frio está por um triz ou se ainda faltam uns dias, ou horas, ou anos; a verdade é que ninguém sabe porra nenhuma sobre coisa alguma. Este é o nosso mistério. E sorte”.