sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Mães de brigadeiro ou só para quem pode?!

 
 
 
Mães de brigadeiro ou só para quem pode?!
por Karina Petroni Fischer

Acordou mais cedo ainda- mais do que o habitual já que o mais novo integrante da casa estava, como sempre, chorando. Pois é, quando tinha se desacostumado com barulhos infames, reaprendido a dormir, notou que algo tinha atrasado e não era a conta de telefone, nem a da água.
Pois então, ela casou e seguiu a linha evolutiva que toda uma geração de mulheres seguiu, inclusive as que queimaram o sutiã ouvindo Janis Joplin. Acontece que, ironicamente, ela desde que seguiu a tal da linha evolutiva, todo dia era dia de rock and roll, baby, mas sem goró, óbvio (“you can´t always get what you want”).
Enfim, ela, mais uma vez, como tantas outras responsáveis pela casa, pelo trabalho, jornada dupla, por estar em dia com a pedicure, manicure, Papanicolau, o cuidado com o sódio, não aprendeu a lição básica e danou-se. “Tô grávida, grávida de...” . Não, não era de um beija-flor, mas do cara que ela jurou amor eterno, mas na hora esqueceu-se de um contrato de divisão de tarefas o que, ultimamente, achava que todo casamento deveria ter. Tipo assim: “prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. E lavar a louça que usei, não deixar as roupas largadas no chão, cuidar das crianças para você poder sair com suas amigas, abaixar a tampa da privada e também me responsabilizar pelo controle de natalidade...”
E as provas estavam todas lá. Um legista forense teria muito trabalho: a prova do crime gritava e o choro era tão doído que dava a impressão que só com 3 meses de idade, ele tinha perdido o grande amor da vida. Nessas horas (quase sempre), ela, tentando manter a pose e o orgulho, dizia:
-É meu filho, gente ! E nem fui eu quem ensinei a chorar assim.
Pois é : já tinha perdido a noção, perceberam?! Justo ela que era tão cuidadosa com as palavras, tinha tanto nojinho e agora estava na onda do papo de mãe. Sim, você já deve ter ouvido que mãe perde todo e qualquer tipo de noção que se possa ter. Pode debater horas sobre a textura do cocô enquanto degusta uma taça de creme de abacate e não sente nojo! Ou sair toda “golfada” do fraldário de um Shopping Center porque mãe perde a capacidade de pensar e sempre se esquece de colocar uma camiseta limpa para ela na bolsa do bebê.
Uma vez, quando ainda não era mãe, viu uma conhecida saindo da praia. Riu ao lembrar-se que procurou o caminhão da Graneiro por lá. Caixa de isopor (tamanho geladeira), umas quatro bolsas, sombrinha, cadeiras, baldes, piscininha (maldita a pessoa que inventou aquilo), isso, mais um pouco e ainda faltava o filho! E a história se repetia com ela: a vida como ela é.
Como assim, céu de brigadeiro, padecer no paraíso, minha gente? Toda aquela emoção, principalmente no facebook,  onde sempre, sempre todas estavam impecáveis, sorridentes, crianças limpinhas e cordas. Ninguém chorava, ninguém teve depressão pós-parto? Ninguém achou estranho que o segundo não era nem um pouco mais fácil do que o primeiro?!
WAF, pensou?!
Sou a única?!
Sim, tinha certeza de que algumas amigas eram mães de brigadeiro, flores para suas princesas ou príncipes, mas o que irritava, de verdade, eram as conversinhas paralelas, principalmente das que usavam justificativas esdrúxulas para tornarem- se mães. Tipo, filho como salvação.
"-Oh fofa, filho não é salvação da alma, nem meio de amadurecer ou sanar maus comportamentos ou sentimentos. Filho é para quem pode e está preparado. E aí, topa ficar com o Júnior aqui e cancelar suas viagem para Miami?"
Mas nunca falava. Entoava o OM, o mantra e sorria.
O único descanso que tinha tido em 4 semanas foi quando estava brincando de faroeste com os filho mais velho e os amiguinhos dele ( rodízio de mães) em uma pracinha e caiu no chão, se fez de morta. MORREU!
Uma senhora veio toda preocupada, chegou perto dela, tocou levemente o ombro e ela, baixinho, bem baixinho, disse:
-Pelo amor de Deus, deixe eles imaginarem que eu morri por alguns minutos só para eu descansar. E não me julgue, por favor.
E tornou a fechar os olhos enquanto os moleques comemoravam a "morte" da presa.
Enfim, padecendo ou não padecendo, queimando ou não sutiãs, tinha um serzinho que precisava dela e só.
Levantou da cama quentinha, pegou o filho. Enfim, era só fome. Não era febre, nem cólica. Obrigada, Deus! E deu aquela piscadela para cima. E gemeu de dor no bico do peito.
E se... seria sempre inevitável... Talvez, porque sempre preferiu a lisura da honestidade que
levava indiscutivelmente a eterna dúvida.